ILHÉUS: A terra de Jorge Amado

Viagem realizada em outubro/2022


Impossível começar a escrever sobre Ilhéus sem associá-la aos romances de Jorge Amado. Para quem não sabe, esse ilustre escritor baiano (autor de mais de trinta livros) nasceu em Itabuna, mas foi em Ilhéus que ele cresceu e passou boa parte da sua infância e juventude. Essa sua relação tão intensa com Ilhéus serviu de inspiração para muitas de suas histórias. Quem nunca leu ou ouviu falar de Gabriela, cravo e canela, por exemplo? Pois é, as belezas de Ilhéus serviram de cenário para muitas de suas criações, mas não é só isso. Nas páginas de seus livros também estão imortalizados trechos da história dessa cidade misturados à cultura de seu povo. Por conta disso, visitar Ilhéus tem essa vibe diferente. De cultura, de história, de literatura brasileira. Tudo junto e misturado! 

Ilhéus fica no sul da Bahia, em uma região chamada Costa do Cacau, e é a cidade com o maior litoral do estado. São quase cem quilômetros de praias! Fui conhecê-la meio que por acaso. Estava procurando um lugar para viajar no meu aniversário e acabei encontrando passagem aérea em promoção para lá. Daí pensei: porque não? E comprei as passagens! Fiquei hospedada em Itacaré (clique aqui para ler sobre essa cidade) e dediquei dois dias para conhecer Ilhéus.

O lugar que eu mais queria visitar era o centro histórico. Quem acompanha o blog sabe que tenho paixão por casarões antiguinhos e em Ilhéus há muitos deles (para a minha alegria)! Boa parte dessas construções foi erguida no século XX, época em que as fazendas de cacau funcionavam a todo vapor. A exportação mundial desse fruto era a principal atividade econômica da região, o que trouxe muita riqueza à Ilhéus (mas principalmente aos barões do cacau). É muito fácil se locomover a pé entre os atrativos daí do centro, pois eles ficam muito próximos um dos outros. 

O primeiro lugar que conheci foi o Museu Casa de Jorge Amado (acredito que este seja o ponto turístico mais visitado da cidade). Foi neste palacete onde Jorge Amado passou boa parte da sua infância e adolescência, e também onde iniciou sua vida literária. A construção é muito bonita e tem estilo neoclássico (e um pé direito de cinco metros!). Uma curiosidade é que ela foi erguida em 1928 pelo seu pai, após ele ganhar um prêmio na loteria (sortudo, não?). A casa possui dois pavimentos (o térreo e o primeiro andar) e há vários elementos que são originais da época, como o piso de madeira jacarandá e os azulejos pintados à mão da varanda (que vieram da Inglaterra). Pelos cômodos estão expostos alguns mobiliários da época e diversos objetos, fotografias, roupas e documentos do escritor. Gostei MUITO de visitar esse espaço! O acervo é bastante interessante (também gostei da vista da janela, s2). A visita é feita com o acompanhamento de um monitor e é cobrada uma pequena taxa na entrada.

Museu Casa de Jorge Amado (à esquerda) e vista de uma das janelas (à direita)
O acervo está exposto nos diversos cômodos do palacete
Escada (à esquerda) e azulejo pintado à mão (à direita), ambos originais da época

Quase em frente à casa de Jorge Amado fica o Teatro Municipal de Ilhéus, uma das mais antigas e tradicionais casas de espetáculos da cidade. Esse teatro foi inaugurado em 1932. Queria muito ter conhecido a parte interna, mas infelizmente estava fechado durante minha visita (acredito que eles estavam revitalizando a fachada, pois havia várias estruturas metálicas na frente). Ao lado do teatro fica outro local bastante tradicional: a Sorveteria Ponto Chic. Essa sorveteria é uma das mais antigas de Ilhéus. Foi inaugurada em 1952 e não parou até hoje! Provei dois sabores: cupuaçu e cacau. Achei o sorvete gostoso, mas não é nada sensacional e imperdível. Um detalhe que não gostei foi que a casquinha estava um pouco murcha. Os preços são ok.

Do outro lado da rua fica o Bar Vesúvio, outro local bastante famoso em Ilhéus. O motivo principal dessa fama é que esse bar centenário foi cenário do romance Gabriela, cravo e canela, escrito por Jorge Amado. Esse bar foi inaugurado por volta de 1919 por dois italianos (inclusive o nome, Vesúvio, foi uma homenagem a um vulcão que existe na Itália). Antigamente ele era bastante frequentado pelos barões do cacau. Durante meu passeio ali pelo centro, ouvi até uma história que esses barões acompanhavam suas esposas à igreja, deixavam-nas lá e passavam o resto do dia nesse bar (que curiosamente possuía uma passagem secreta para o bordel Bataclan, localizado na rua de trás). Apesar desses inusitados acontecimentos do passado, a fama do bar só veio mesmo depois que ele foi imortalizado na obra de Jorge Amado. Inclusive o cardápio do bar é repleto de pratos que homenageiam o escritor e alguns de seus personagens. Em frente há uma estátua de Jorge Amado sentado em um banco (perfeita para fotos).

A Catedral de São Sebastião fica ao lado do Bar Vesúvio. Sua arquitetura imponente em estilo neoclássico é muuuito linda e chama a atenção de longe (o interior também é muito bonito). A catedral foi inaugurada em 1967 e também é considerada um dos atrativos turísticos mais visitados do centro de Ilhéus. Queria muito ter ido à Igreja São Jorge, uma outra igreja que também fica lá no centro, mas infelizmente não deu tempo. Essa é a igreja mais antiga de Ilhéus (sua construção data de 1556). A arquitetura é tipicamente colonial e ela também foi cenário das histórias criadas por Jorge Amado.

Catedral de São Sebastião e o Bar Vesúvio
Por dentro da Catedral de São Sebastião
A estátua de Jorge Amado, em frente ao Bar Vesúvio

O Bataclan é outro local muito famoso ali do centro. Sua curiosa história atrai muitos visitantes e turistas. Esse casarão foi erguido por volta de 1920 e, por quase três décadas, funcionou como um bordel (misturado com cabaré e cassino). Ele era bastante frequentado pelos barões do cacau e por alguns boêmios e intelectuais da época (e também apareceu nas páginas das obras de Jorge Amado). Com o declínio da exportação do cacau e a proibição das casas de jogos no Brasil (na década de 1950), o Bataclan acabou fechando. Atualmente ele funciona como um restaurante e espaço cultural. Alguns mobiliários, vestuários, objetos e fotografias dessa época estão expostos em uma das salas do andar superior do restaurante. Para visitar essa sala é cobrada uma taxa de visitação (mas a visita ao espaço do restaurante é gratuita).

Bataclan, antigo bordel de Ilhéus
Sala destinada a exposição sobre a história do Bataclan
Réplica de um dos quartos do bordel (à esquerda) e palco do Bataclan (à direita)

O Palácio Paranaguá é outra construção muito bonita do centro histórico! Sua arquitetura tem estilo neoclássico e é rica em detalhes. Esse palacete começou a ser erguido em 1898 e só ficou pronto quase dez anos depois, em 1907. Durante décadas ele foi apenas sede da prefeitura, porém, a partir de 2017, também começou a abrigar o Museu da Capitania de Ilhéus em um de seus andares (onde estão expostos diversos documentos, objetos e mobiliários que narram um pouco da história da cidade). Não sei dizer se esse museu é aberto à visitação, pois apenas passei rapidinho em frente para admirar a arquitetura.

Ali no centro também fica o Mercado de Artesanato, outro local imperdível (na minha humilde opinião). Eu AMEI esse mercado! Ele é um ótimo local para comprar artesanatos, lembrancinhas, roupas e doces produzidos na região. Achei os preços super ok e há uma boa variedade de vendedores. Impossível sair de lá e não gostar de nada, rs.

Palácio Paranaguá
Mercado de Artesanato de Ilhéus

Na lateral da Catedral de São Sebastião há uma ladeira que te leva até o Mirante do Canhão. Apesar de ser uma subidinha íngrime, o acesso é muito fácil e rápido. Não deu nem dez minutos caminhando. Esse mirante fica na Praça do Cadete e tem uma vista MUITO bonita para a baía do Pontal. Recomendo! Além da bela paisagem, ali na praça também há um mini Cristo Redentor, muitas árvores, banquinhos (para descansar depois da subida, rs) e um canhão (apontando sei lá pra onde).

Mirante do Canhão
Cristo (à esquerda) e vista para a Igreja da Piedade (à direita)
Vista para a Baía do Pontal

Como comentei no início do post, Ilhéus está localizada na Costa do Cacau e boa parte do desenvolvimento da cidade veio do cultivo desse fruto. E obviamente que na terra do cacau não poderiam faltar fábricas de chocolate, não é mesmo? Fui conhecer uma delas, a Chocolate Caseiro Ilhéus, que existe desde 1985 e é considerada a primeira fábrica de chocolates da Bahia. A arquitetura da loja me chamou a atenção de longe, pois lembra muito as chocolaterias de Gramado (que por sua vez são inspiradas na arquitetura europeia). Ali dentro da loja há uma variedade enooorme de chocolates e o aroma é delicioso! Achei os preços um pouco altos e acabei comprando apenas um tablete para presentear minha mãe (vou perguntar se ela gostou). A fábrica fica ao lado da loja e, caso você queria ver a produção, as atendentes abrem uns janelões onde pode-se observar lá dentro. No jardim externo tem uma réplica em miniatura de uma fazenda de cacau. Achei bem bonitinho! Gostei de conhecer essa loja de fábrica, porém não acho que seja uma experiência imperdível.

Loja de fábrica Chocolate Caseiro Ilhéus
Réplica em miniatura de uma fazenda de cacau
Loja (à esquerda) e por dentro da fábrica de chocolates (à direita)

Agora chega de falar dos passeios culturais e vamos nos concentrar nas belezas naturais de Ilhéus, já que ela é dona de quase cem quilômetros do litoral baiano. Não preciso nem comentar que a cidade está cheia de praias lindas! A mais famosa e mais bem estruturada (turisticamente falando) é a Praia dos Milionários. Essa praia fica no litoral sul de Ilhéus e é nela onde estão boa parte dos hotéis e pousadas da cidade (é a continuação da Praia do Sul, que começa ali depois do aeroporto). Ela tem esse nome por conta das antigas mansões dos barões do cacau que existiam por aí. A faixa de areia é super extensa e repleta de coqueiros! Apesar dessa praia ser super movimentada (principalmente perto das cabanas e barracas), também é possível encontrar alguns cantinhos mais tranquilos.

Outro local que conheci foi a Praia do Cururupe. Essa praia é linda demais e foi a minha preferida, sem sombra de dúvidas! Além dos coqueiros, da areia branquinha e de todo visual paradisíaco, ainda tem o encontro do Rio Corurupe com o mar, garantindo duas opções de banho: em água doce e em água salgada. A praia também possui uma boa infraestrutura, pois há algumas opções de cabanas para atender os visitantes. Se você prefere uma praia mais vazia é só se afastar um pouquinho para o lado direito e terá quilômetros e quilômetros de pura tranquilidade e isolamento.

Chegando na Praia do Cururupe, olha essa vista!
Encontro do rio com o mar na Praia do Cururupe

Também conheci a Praia Batuba, que fica no distrito de Olivença. Essa praia é bonita, mas fiquei apenas um pouquinho por lá, pois estava praticamente vazia. O tempo também não ajudou muito (peguei uma baita chuva quando estava nela). Essa praia tem uma boa estrutura de hospedagens e comércios. Também há uma singela igrejinha no centro da vila: a Igreja Nossa Senhora da Escada.

Praia Batuba, em Olivença
Igreja Nossa Senhora da Escada, no centrinho de Olivença

Gostei muito de conhecer Ilhéus! O que mais me encantou na cidade foram seus atrativos culturais e históricos. Adorei visitar o centro, ver as construções imponentes do século passado (algumas bem preservadas, outras nem tanto assim), a antiga casa de Jorge Amado e todas as histórias (fictícias ou não) envolvendo esses lugares. Foi muito legal! As praias também são muito bonitas. A minha preferida foi a Cururupe! Achei relativamente fácil se locomover por Ilhéus usando transporte público. Há muuuitas opções de linhas. Todos os lugares que visitei foi usando esses ônibus urbanos (só precisa ter um pouquinho de paciência e reservar um tempo a mais para essa locomoção). Infelizmente faltou conhecer muita coisa (foi uma pena não ter visitado uma fazenda de cacau, por exemplo), mas fica aí um motivo pra voltar. :D


GOSTOU DE ILHÉUS?
Conheça Itacaré ou a Península de Maraú, ficam bem próximos e são lugares lindos!

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