SÃO CRISTÓVÃO: A cidade mãe de Sergipe!

Viagem realizada em março/2024


São Cristóvão foi a primeira capital de Sergipe e é considerada a quarta cidade mais antiga do Brasil. Ela foi fundada em 1590 e muitas construções dessa época ainda estão espalhadas por suas estreitas ruas, cheias de ladeiras e becos. Caminhar por ali é um passeio para se fazer com calma, seguindo o ritmo da cidade, que transborda receptividade e muuuita tranquilidade. O tempo parece passar mais devagar por ali. É até difícil imaginar que essa região, hoje tão pacata, já foi palco de tantas batalhas, principalmente entre os franceses e os holandeses/portugueses, que disputavam o domínio do local. Todas essas histórias ainda estão preservadas por ali, seja no belíssimo conjunto arquitetônico (tombado como patrimônio histórico pelo Iphan), na culinária de dar água na boca ou nos festejos populares que acontecem anualmente. Já deu para perceber que São Cristóvão respira história e cultura, não é?

Conhecer São Cristóvão é um passeio quase que obrigatório para quem visita Aracaju. As duas cidades são super próximas. Apenas 25 quilômetros a separam, percorridos em menos de uma hora. Você pode conhecê-la de três formas: com seu veículo próprio, em um passeio guiado oferecido pelas agências receptivas lá no bairro de Atalaia (na capital sergipana) ou usando transporte público. Optei por essa última forma e já adianto que foi bem fácil e econômico (do jeitinho que Pés na Areia gosta!). Os ônibus partem de diversos locais de Aracaju, é só traçar a rota pelo aplicativo Moovit (ou outro de sua preferência) e ir. 

Minha primeira parada foi na Praça São Francisco, que é tombada como patrimônio da humanidade pela Unesco por conta do seu valor histórico, paisagístico, urbanístico e sociocultural. Esse praça tem o formato quadrangular (algo bem característico no urbanismo de Portugal e Espanha, na época da União Ibérica) e no seu entorno há diversas construções da época colonial muito bem preservadas (boa parte delas em estilo barroco). A que mais me chamou a atenção foi o Convento São Francisco, fundado em meados do século XVII. Ele é composto pela Igreja ConventualCapela de São Francisco, Cruzeiro e Museu de Arte Sacra. Infelizmente não consegui visitá-lo, pois estava fechado (era feriado de Páscoa), mas amei os detalhes arquitetônicos da fachada. A construção é bastante imponente!

Praça São Francisco
Convento de São Francisco
Detalhes arquitetônicos da construção

Nesta mesma praça está a Santa Casa de Misericórdia e a Igreja Santa Izabel. A Santa Casa foi construída em 1607 e já abrigou um hospital, um asilo, um orfanato e até um cemitério em seu jardim. Atualmente ela sedia a Prefeitura Municipal. Anexo ao prédio principal fica a Igreja Santa Izabel, que também estava fechada no dia da minha visita. :(

O Palácio Provincial, que sedia o Museu Histórico de Sergipe, é outra construção bastante importante e fica ali ao lado. Este casarão foi erguido no final do século XVIII e funcionou como sede do governo até 1855. Apenas em 1960 é que transformou-se em museu (é considerado o museu mais antigo do estado). Por meio de seu acervo (composto por diversas pinturas, mobiliários, moedas e documentos da época colonial e imperial), é possível conhecer um pouco da memória e da identidade cultural dos sergipanos. Além dessas riquíssimas peças, o museu também sedia algumas exposições temporárias e eventos culturais. Quando estive em São Cristóvão (março/2024), o casarão estava sendo revitalizado e, por conta disso, fechado para visitação. Torcer para essa obra acabar logo e o museu voltar para a população e turistas.

Santa Casa de Misericórdia e Igreja Santa Izabel
Palácio Provincial

Ali na Praça São Francisco também fica a Casa das Culturas Populares, um pequeno espaço que tem como objetivo preservar a história e as tradições dos são-cristovenses. Achei o acervo interessantíssimo e aprendi muitas coisas sobre as manifestações culturais que ainda hoje acontecem ali na cidade, principalmente sobre os folguedos. Para quem não sabe, folguedo é uma espécie de festejo popular (que mistura música, dança e teatro) bastante tradicional em São Cristóvão. Ali na Casa da Cultura há alguns bonecos caracterizados, representando alguns desses folguedos, como o Bacamarteiros, Taieiras, Langa, Chegança dos Mouros, Reisado, Samba de Coco, Batalhão de São João, São Gonçalo do Amarante e Caceteira. Além dos bonecos, também há muitos painéis explicativos, brinquedos e xilogravuras. O espaço também sedia algumas exposições temporárias. Amei conhecer a Casa de Cultura e super recomendo!

A Casa das Culturas Populares
Painéis explicativos sobre os folguedos
Bonecos caracterizados representando os tradicionais folguedos

Ali pertinho da praça fica outro lugar que adorei visitar: a Casa dos Saberes e Fazeres. Esta casa é perfeita para conhecer (e comprar!) as peças produzidas manualmente por mais de trinta artesãos da região. Tem de tudo um pouco: esculturas, bonecas de pano, roupas, bordados, pinturas, cordéis, xilogravuras, bijuterias e até doces e licores. As peças são lindas e é bem difícil escolher o que comprar. Ah, e fui SUPER bem atendida por lá! Recomendo muuuito a visita. Mais do que um espaço para compras, a Casa dos Saberes e Fazeres é um local para preservar e disseminar a história, a cultura e a arte de São Cristóvão.

A Casa dos Saberes e Fazeres
A casa comercializa peças de mais de trinta artesãos de São Cristóvão

Na mesma rua da Casa dos Saberes e Fazeres fica a Casa dos Bricelets. Bricelet é um doce típico da região que tem uma história bastante curiosa. Essa espécie de biscoito era produzido artesanalmente pelas freiras beneditinas (vindas da Suíça) que viveram enclausuradas na Santa Casa de Misericórdia (ali na Praça São Francisco) durante o início do século XIX. Elas vendiam esse biscoito para ajudar a manter o orfanato que funcionava por ali (já que pararam de receber apoio financeiro com a extinção das ordem religiosas, em 1834). A receita é considerada uma herança deixada por essas freiras e até hoje a massa é produzida da mesma forma, bem artesanalmente. O biscoito leva farinha de trigo, leite, ovos e um leve toque de limão e laranja na massa, e é fininho como a hóstia, desmanchando na boca. Essa iguaria ficou tão famosa em São Cristóvão que a receita foi tombada como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Sergipe. Olha que chique! Os doces também ganharam um café exclusivo para comercializá-los: a Casa dos Bricelets. Infelizmente não consegui prová-los. Como era feriado de Páscoa, muitos atrativos da cidade não estavam funcionando. Uma pena... :(

Ali pertinho, ainda na mesma rua, está localizada a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Essa igreja foi erguida no século XVIII com o objetivo de ser um local de encontros religiosos do povo preto de São Cristóvão, já que eles não podiam frequentar as outras igrejas da região (devido a segregação racial que existia na época). A mistura do catolicismo com as religiões de matriz africana estão presentes em diversos detalhes arquitetônicos da construção, principalmente na fachada. A igreja também sedia alguns eventos durante o ano, como o Festival de Cultural Afro (onde ocorre a lavagem da escadaria) e a Festa de Nossa Senhora do Rosário (onde há a participação do folguedo Chegança durante a missa).

As ruas de São Cristóvão estão repletas de casinhas coloniais coloridas
Casa dos Bricelets
Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos

Outro casarão que me chamou bastante a atenção na minha caminhada pelo centro histórico foi o Sobrado Balcão Corrido. Assim como as demais construções de São Cristóvão, ele também tem estilo colonial e foi erguido no século XIX. Um detalhe que o difere dos outros casarões é o balcão delicadamente esculpido em madeira. É muito bonito!

Quase ao lado desse casarão fica a Casa da Queijada, outro local imperdível e repleto de histórias! É aí nesta casa que é comercializada a tradicional queijadinha. Assim como os bricelets, esse doce (que leva queijo no nome mas não tem queijo na massa, rs) também é tombado como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Sergipe. A receita foi trazida pelos portugueses, lá na época colonial, e adaptada pelos escravizados que trabalhavam nos engenhos. Como o queijo era algo ainda difícil de ser encontrado no Brasil, ele foi substituído pelo coco (muito mais abundante por aqui). E assim nasceu a típica queijadinha de São Cristóvão! A receita e a forma artesanal do preparo foi passada de geração para geração desde aquela época, e até hoje é produzida pelos descendentes desses escravizados. Felizmente a Casa da Queijada estava aberta e pude provar o doce, que é uma delícia e merece a fama que tem. Super recomendo!

Sobrado Balcão Corrido
Casa da Queijada
A Casa da Queijada também comercializa outros tipos de doces e bebidas, além da queijadinha

A Praça Getúlio Vargas, também conhecida como Praça da Matriz, fica em frente a Casa da Queijada. Essa praça tem aquele jeitinho típico de interior, com muitas árvores, banquinhos para sentar, coreto charmoso e, claro, uma igreja: a Igreja Matriz Nossa Senhora da Vitória. Essa igreja é o templo católico mais antigo de Sergipe (ainda em atividade). Ela foi erguida no ano de 1608 e tem estilo barroco. Um detalhe interessante é que suas torres são revestidas com azulejos e possuem um galo português no topo.

Praça Getúlio Vargas, também conhecida como Praça da Matriz
Igreja Matriz Nossa Senhora da Vitória
O estilo barroco predomina no interior da igreja

Próximo dali fica a Praça Senhor dos Passos, mais conhecida como Praça do Carmo, seu antigo nome. É nela onde está localizada outra construção muuuito importante de São Cristóvão: o Conjunto do Carmo. Esse conjunto arquitetônico é composto pela Igreja Conventual de Nossa Senhora do Carmo, pela Capela da Ordem Terceira, pelo Museu dos Ex-votos e pelo Memorial Santa Dulce dos Pobres. A construção desse complexo se estendeu por longos anos dos séculos XVII e XVIII. O estilo original era o barroco, mas com o passar do tempo acabou incorporando alguns detalhes neoclássicos também. Um detalhe bastante curioso da história desse local é que a Irmã Dulce (a primeira santa nascida no Brasil) viveu neste convento por mais de um ano. Por conta disso, há um memorial em sua homenagem. Infelizmente não consegui conhecer o interior de todo o Conjunto do Carmo, mais um atrativo que estava fechado. Foi uma pena! Ouvi dizer que a arquitetura dali de dentro é linda.

Conjunto do Carmo

Outra construção que gostei de conhecer foi a antiga Estação Ferroviária (ela não fica no centro histórico, mas é próxima dali). Essa estação foi inaugurada em 1913 e fazia parte da malha ferroviária que ligava a Bahia à Sergipe, mais exatamente as cidades de Timbó (BA) e Propriá (SE). Os trens transitaram por ali até 1970, ano em que foi desativada. Infelizmente a estação encontra-se abandonada e precisando de uma restauração urgente. Alô, governantes!!! #ficaadica

Antiga Estação Ferroviária de São Cristóvão

Gostei muito de conhecer São Cristóvão, mas foi uma pena boa parte dos atrativos estarem fechados para visitação bem no dia em que estava por lá. Foi bem gostoso caminhar pela cidade e ir admirando os casarões históricos, tão ricos em detalhes e histórias. Outra coisa que me chamou a atenção foi a gastronomia. A queijadinha que provei era deliciosa! Também amei conhecer um pouco sobre os tradicionais folguedos e a produção artesanal ali da região. Eu não fazia ideia que São Cristóvão era tão rica culturalmente! Foi uma surpresa bastante agradável e enriquecedora. Faltou conhecer MUITA coisa, como entrar nas igrejas e nos museus, provar o bricelet e visitar o Ateliê Nivaldo Oliveira (queria tanto ter conhecido, mas estava fechado também). Fica aí um motivo pra voltar! :D


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Conheça outras cidades que visitei durante minha viagem à Sergipe: Aracaju (SE), Estância (SE), Canindé de São Francisco (SE), Foz do Rio São Francisco (AL) e Mangue Seco (BA).

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