CONSERVATÓRIA: A capital brasileira da seresta

Viagem realizada em maio/2019


Conservatória foi uma grata surpresa na minha vida de viajante. Não me lembro ao certo como descobri essa cidade, mas recordo que o título de "capital brasileira da seresta" chamou minha atenção logo de cara. Fui para lá em um final de semana e dediquei um dia para Conservatória e outro para Vassouras, que fica super perto (clique aqui para ler o relato dessa viagem).

Conservatória fica no interior do Rio de Janeiro, em uma região conhecida como Vale do Café. As cidades que pertencem a esse vale tiveram seus anos de glória durante o período em que o cultivo do café movimentava fortemente a economia brasileira (o Ciclo do Café, no século XIX). Ainda hoje é possível encontrar as fazendas e os casarões coloniais construídos nessa época. Para quem vem de São Paulo são aproximadamente 370 quilômetros de distância, mas do Rio de Janeiro é bem mais perto, apenas 120. Daqui de São Paulo não tem ônibus direto e é preciso descer em Barra do Piraí para de lá pegar outro ônibus. Parece cansativo, mas é bem fácil.

O desembarque em Conservatória já acontece dentro de um ponto turístico: a antiga Estação Ferroviária. Essa construção é bastante antiga, mais precisamente do ano de 1883 e foi inaugurada por Dom Pedro II. Ali ao lado fica outro atrativo: a Locomotiva 206. Essa maria-fumaça além de puxar os vagões de passageiros, também transportava os vagões com o café que era produzido na cidade.

A rodoviária de Conservatória funciona dentro da antiga Estação Ferroviária
A Locomotiva 206

A tradição das serestas e serenatas vem da época do Ciclo do Café. Existem várias histórias para contar como essa tradição começou e uma delas diz que, por volta de 1938, um grupo de violeiros saiu pelas ruas de Conservatória, durante a madrugada, para cantar nas janelas de suas amadas. As canções acabaram agradando a vila inteira e a partir daí a tradição foi ficando cada vez mais forte. A história da cidade pode ser lida em diversas plaquinhas que ficam na fachada de uma escola (pertinho do Museu Vicente Celestino), chamado de Caminho Joubert.

Caminho Joubert

Uma das delícias de Conservatória é caminhar por suas ruas e ir descobrindo os charmosos sobrados e casarões construídos durante essa época cafeeira. É uma construção mais bonita que a outra. Eu garanto! Outra coisa que adorei descobrir foi que, em boa parte dessas casas, os moradores colocaram plaquinhas nas fachadas com o nome (e às vezes até com a letra) de suas canções preferidas. É MUITO charmoso e MUITO legal ir encontrando essas plaquinhas. Esse projeto é chamado de Em toda casa uma canção e foi criado lá no Museu da Seresta, que fica dentro da Casa de Cultura.

Olha que fofa essa casinha (à esquerda) e plaquinha na fachada (à direita)
Antigo casarão onde hoje funciona uma pousada

Quem quiser acompanhar e assistir as apresentações musicais ao ar livre precisa estar na cidade aos finais de semana ou feriados. A programação acontece durante o ano todo nas noites de sexta, manhãs e noites de sábado e manhãs de domingo. Se você for planejar uma viagem para lá, é legal se informar antes os horários e locais das cantorias. Algumas são feitas pelas ruas, enquanto outras são na Praça Getúlio Vargas e na Rua de Lazer. Por falar em Rua de Lazer é aí onde fica o "centrinho" de Conservatória, onde há diversos restaurantes, lojinhas e banquinhos para sentar e apreciar a vida.

Rua de Lazer

Outro local onde ocorre as apresentações musicais é no Teatro Musical Sonora. Esse teatro funciona dentro de um casarão belíssimo e possui uma decoração super saudosista. Os bancos de cinema antigo são o que mais se destaca e nas paredes há diversos objetos retrôs. Um detalhe que chamou MUITO a minha atenção foi a calçada. Nela estão gravados as assinaturas e o desenho das mãos e sapatos de diversos músicos famosos, como Elis Regina, Nelson Gonçalves e Maysa.

Teatro Musical Sonora
Detalhe da calçada do teatro

Como toda cidade de interior, Conservatória também tem uma praça principal: a Praça Getúlio Vargas. Além de servir como área de lazer e descanso para os moradores, ela também sedia alguns eventos e apresentações musicais. Também é nessa praça onde fica a Igreja Matriz de Santo Antônio, construída em 1850.

Praça Getúlio Vargas
Igreja Matriz de Santo Antônio, por fora e por dentro

Se você quiser conhecer um pouquinho mais sobre esse estilo musical tradicional de Conservatória ou sobre alguns músicos que se destacaram na cidade é só visitar o Museu Vicente Celestino e o Museu da Seresta (que fica dentro da Casa de Cultura). Um fica ao lado do outro e é bem fácil de encontrar. Os dois museus são muito interessantes e possuem um acervo riquíssimo repleto de documentos, instrumentos musicais, mobiliário antigo, figurinos, fotografias, discografia e mais uma infinidade de objetos. A Casa de Cultura também abriga exposições fixas e temporárias de artistas locais.

Museu Vicente Celestino
Interior do Museu Vicente Celestino
Casa de Cultura (à esquerda) e rádios antigos que pertencem ao acervo (à direita)
Interior da Casa de Cultura, onde funciona o Museu da Seresta

Outro local bastante interessante em Conservatória é o Túnel que Chora. Esse túnel foi construído em 1880 pelos escravos para ajudar no escoamento do café que era produzido na cidade. Como há muita vegetação na parte de cima do túnel (tem até uma nascente de água), ele goteja e daí vem seu nome.

Túnel que chora

Gostei bastante de Conservatória! Achei incrível essa tradição das serestas e serenatas ser mantida ainda nos dias atuais. Isso é algo muito legal de se ver e que valorizo muito quando viajo pelo Brasil. As ruas e seus casarões são repletos de detalhes que remetem a esse universo musical e isso foi uma grata surpresa durante a viagem. Como estava a pé pela cidade, meu passeio se resumiu ao centrinho, mas há muitos outros atrativos na região para quem está de carro. Pode-se por exemplo visitar fazendas de café (como a Fazenda Florença), cachoeiras (como a Cachoeira da Índia), o Mirante da Serra da Beleza e a Ponte dos Arcos. Também não consegui visitar o Cine Centímetro e o Instituto Waldir Azevedo. Quem sabe um dia eu volto!


GOSTOU DE CONSERVATÓRIA?
Visite a cidade de Vassouras que também pertence ao Vale do Café.

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