CIDADE DE GOIÁS: A terra de Cora Coralina é patrimônio mundial!

Viagem realizada em fevereiro/2018


Quanto mais viajo pelo Brasil, mais surpresas lindas encontro pelo caminho! E a Cidade de Goiás foi um desses presentes especiais que ganhei durante minha viagem à Goiânia (clique aqui para ver o post). A primeira vez que ouvi falar sobre essa cidadezinha goiana foi no blog Casos e Coisas da Bonfa. A Katia (autora do blog) foi passar um final de semana lá com o marido e depois publicou um relato super completo com um moooonte de fotos lindas! Fiquei apaixonada assim que li o primeiro parágrafo e claro que a Cidade de Goiás entrou na minha wish list!

A primeira capital de Goiás foi fundada por volta de 1726 por um bandeirante, o Bartolomeu Bueno da Silva (sim, a Cidade de Goiás foi a primeira capital do estado). Ele descobriu que naquela região do Rio Vermelho havia ouro e, por conta disso, uma pequena vila de garimpagem foi se formando às margens do rio. Com o passar do tempo, o Ciclo do Ouro fez essa vila prosperar financeiramente e crescer cada vez mais, até se tornar uma cidade bem estruturada e a capital do estado. Porém esse prestígio só durou até 1937, quando o título de capital foi transferido para Goiânia. Hoje, boa parte da economia da cidade gira em torno do turismo.

Fiz um bate-volta pra lá partindo de Goiânia (são 130 quilômetros de distância). O ônibus demorou umas três horas pra chegar e o trajeto é cheio de paisagens lindas, principalmente no trecho de serra. A rodoviária não fica tão perto do centrinho, mas dá para ir a pé em uma caminhada de uns dez/quinze minutos. Fiquei bem perdida logo que desembarquei do ônibus. As ruas são estreitas, cheias de becos e o calçamento é de pedras, no estilo paralelepípedo. O lado bom disso foi que pude perceber que os casarões coloniais não estão concentrados apenas no centro da cidade. Quase todas as casas são assim! Esse belíssimo conjunto arquitetônico, juntamente com a importância histórica e o urbanismo, fizeram com que a Cidade de Goiás fosse tombada como patrimônio pelo Iphan e pela Unesco.

Sou apaixonada por essa arquitetura!

Depois de uma boa caminhada, cheguei na Praça Doutor Brasil Caiado (também conhecida como Largo do Chafariz). Ela é enorme e tem um gramado muito bonito com várias luminárias charmosíssimas! Ali estão duas construções muito importantes: o Museu das Bandeiras e o Chafariz de Cauda. Antes de ser um museu, o Museu das Bandeiras era a Casa de Câmara e Cadeia da cidade. Ele demorou cinco anos para ficar pronto, de 1761 até 1766. Infelizmente não consegui visitá-lo, pois ele fecha no horário do almoço e foi justamente nesse período que estive na praça. O Chafariz de Cauda foi criado no ano de 1778 para abastecer a cidade e é o único chafariz nesse estilo aqui no Brasil. Toda a praça é cercada de casinhas coloniais muito bonitas e coloridas. Ah, e como ela fica em um local alto, a paisagem das montanhas ao fundo deixa tudo ainda mais bucólico e encantador.

Museu das Bandeiras
Casinhas coloridinhas
Chafariz de Cauda

Lá da praça, fui descendo a Rua Luiz do Couto e encontrei mais um local interessante: o Quartel do XX. Esse quartel é do ano de 1747 e é o edifício oficial mais antigo do estado. Ele teve uma importância fundamental na história da cidade, pois todos os movimentos políticos e sociais do estado passaram por ali. Ele alojou as forças militares até por volta de 1940 e depois disso foi usado para muitas outras finalidades, como depósito, hotel, hospital, arquivo da prefeitura, secretaria municipal de cultura...

Quartel do XX
Detalhes cheios de história

Um pouquinho mais à frente, nessa mesma rua, tem outra construção lindíssima, a Casa da Fundição do Ouro. Era nessa casa onde uma parte do ouro encontrado pelos mineradores era fundido e transformado em barras. Ela funcionou durante os anos de 1752 e 1883. Se você tiver mais interesse sobre a história dessa construção, tem uma pesquisa muuuito interessante sobre ela no site do Iphan (clique aqui para acessá-la).

Ali pertinho, na esquina da rua, há a Igreja da Boa Morte onde funciona o Museu de Arte Sacra da Boa Morte. Fiz a visita guiada a este museu e adorei! Ali estão expostos mais de mil peças sacras. Há pratarias, porcelanas, indumentárias, gravuras, pinturas e esculturas de santos. Boa parte dessas esculturas foram produzidas por Veiga Valle, um dos artistas mais famosos e requisitados na região. A igreja foi construída em 1779 e tem o estilo tipicamente barroco. Em 1921 ela sofreu um incêndio que destruiu o telhado, o altar e diversas imagens. Felizmente, foi reconstruída e permaneceu funcionando como igreja até 1967, quando então virou um museu.

Casa da Fundição do Ouro
Igreja da Boa Morte

A Igreja da Boa Morte fica de frente para o Largo da Matriz (também conhecido como Praça do Coreto), onde há mais algumas construções super bonitas e interessantes, como a Igreja Matriz (Catedral de Sant'Ana), o Palácio Conde dos Arcos, o Pelourinho (acho que era um pelourinho, me corrijam se eu estiver errada) e o Coreto (onde funciona uma sorveteria desde 1952).

A Igreja Matriz foi construída em 1743 com o objetivo de comportar a nova quantidade de fiéis que a Cidade de Goiás ganhou conforme foi crescendo. Ela foi projetada para caber três vezes mais o número de pessoas que a Catedral do Rio de Janeiro. Porém, como a engenharia da época era um pouco precária, o teto acabou desabando em 1759. Algum tempo depois, tudo foi reconstruído, porém ainda hoje é possível ver a marca das duas construções.

Detalhe de uma das casinhas (à esquerda) e Pelourinho (à direita)
Igreja Matriz, por dentro e por fora
Detalhe da porta de entrada da igreja
Coreto

O Palácio Conde dos Arcos (popularmente conhecido como Casa Chata por causa de sua arquitetura alongada) é onde ficava a antiga sede do governo, quando a Cidade de Goiás ainda era a capital do estado. Ele foi construído por volta de 1751 a pedido do primeiro governador da cidade. Atualmente o palácio funciona como museu. Em seus mais de trinta ambientes estão expostos mobiliários da época, louças, fotografias, pinturas, documentos e outras peças antigas. O palácio também têm alguns jardins muuuito lindos nos fundos. Fiquei encantada com a quantidade de flores! Uma das coisas mais curiosas que fiquei sabendo durante a visita guiada é que, uma vez ao ano, a Cidade de Goiás volta a ser a capital do estado.

Palácio Conde dos Arcos
Acervo do museu
Louças e mobiliários da época
O jardim localizado nos fundos é muito fofo e cheio de flores!

Continuei minha caminhada e conheci mais alguns pontos da cidade, como o Cine Teatro São Joaquim (onde acontece diversas apresentações artísticas) e a Cruz do Anhanguera (monumento histórico que simboliza o início da colonização de Goiás), e finalmente cheguei ao Rio Vermelho.

O Rio Vermelho é um dos locais mais importantes na história da Cidade de Goiás. Foi aí que teve início a pequena vila que, posteriormente, se transformou na capital do estado. O ouro encontrado às margens desse rio trouxe muita riqueza à região. Porém, esse mesmo rio também foi o causador de duas grandes tragédias: as enchentes de 1839 e de 2001. Essas catástrofes destruíram boa parte do centro histórico. Pontes, prédios comerciais, igrejas, monumentos e centenas de casas foram destruídas integralmente ou participalmente pela força das águas do rio. Felizmente, boa parte desses danos foram reconstruídos pelo Iphan (com a ajuda da população) e hoje quase não vemos sinais do que aconteceu por ali.

Cine Teatro São Joaquim, reinaugurado recentemente, em 2017
A Cruz do Anhanguera
Rio Vermelho

Nesse trecho do Rio Vermelho está localizado a casa da poetisa Cora Coralina, um dos lugares mais especiais e inesquecíveis que conheci durante essa viagem. Essa casa foi construída por volta de 1770 e já teve vários moradores. Um deles foi o sargento João José do Couto Guimarães, o trisavó de Cora. Ele a comprou em 1825, quando passou a pertencer à família, até 1985. Depois disso, a "Casa Velha da Ponte" (como era chamada pela própria poetisa), virou o Museu Casa Cora Coralina. A visita ao museu é feita com o acompanhamento de um monitor. Ele vai contando detalhes e curiosidades da vida e da personalidade de Cora. Cada cômodo está cuidadosamente mobiliado e repleto de objetos pessoais. Tem roupas, livros, manuscritos, fotos, louças, máquina de escrever... E tudo é muuuito simples, mas cheio de cuidado e amor. É como se Cora ainda morasse por lá.

Cora Coralina (que significa "coração vermelho") era o pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas. Ela nasceu na própria Cidade de Goiás, em 1889, e estudou apenas até a terceira série. Porém, Cora sempre gostou de escrever e, ainda jovem, começou a publicar crônicas, contos e poemas em jornais e revistas. Nesse meio tempo, foi morar na cidade de São Paulo e depois no interior paulista, sempre escrevendo e participando ativamente da vida cultural, literária e política dos locais onde residiu. Em 1956, ela voltou a morar na "Casa Velha da Ponte", em sua cidade natal, onde conseguiu publicar seus primeiros livros. Cora Coralina morreu em 1985, com 96 anos de idade.

Um dos detalhes mais lindos da história dessa poetisa é que, mesmo sem completar os estudos e com um jeito simples de escrever, ela conseguiu ser reconhecida por órgãos importantíssimos da literatura brasileira e receber diversos prêmios, troféus e títulos. Conhecer sua casa foi uma verdadeira lição de simplicidade e amor à vida!

A casa de Cora Coralina é essa de janelas verdes, à esquerda
Museu Casa de Cora Coralina
O jardim da casa era o único espaço que podia ser fotografado
Estátua de Cora em uma das janelas de sua casa (à esquerda) e rua onde a casa fica (à direita)

Na mesma rua onde Cora nasceu e morou, fica a Igreja do Rosário. Essa igreja, em estilo neogótico, foi construída em 1934 no lugar de uma outra igreja menor, a Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Essa pequena capela (em estilo colonial) havia sido erguida em 1734 pelos escravos da região, que sentiam a necessidade de ter um espaço religioso só deles. Não entendi por qual motivo os dominicanos franceses demoliram essa capelinha e construíram outra igreja em seu lugar... Ao lado dela fica o Convento do Rosário, onde funciona a Associação dos Artesãos de Goiás.

Igreja do Rosário (à esquerda) e cerâmica linda do chão da igreja (à direita)
Casinhas no Largo do Rosário
Mais construções coloniais

A última parte do meu passeio pela Cidade de Goiás foi na avenida beira-rio. Ali conheci mais dois lugares: a Igreja São Francisco de Paula (foi a terceira igreja construída na cidade, em 1761) e o Mercado Municipal. Gostei muito do mercado! Ele foi restaurado recentemente, em 2016, e tem detalhes arquitetônicos muito bonitos (uma mistura de barroco com art déco). Sua construção é do ano de 1926 e, nessa época, acontecia uma espécie de feira aí dentro, onde os produtores rurais da região vendiam suas mercadorias. Inclusive a rodoviária da cidade ficava aí também. Hoje, ele abriga diversos boxes que comercializam de tudo um pouco: tem artesanato, comidas típicas, frutas do cerrado... Adorei passear por ali e provei um doce goiano delicioso (que não me lembro o nome, rs).

Igreja de São Francisco de Paula
Mercado Municipal
Detalhe arquitetônico

Bom, acho que ficou evidente que amei a Cidade de Goiás! Adorei conhecer um pouquinho de sua história e até de me perder em seus becos. Acho super curioso como cidades históricas tem o poder de fazer a gente voltar no tempo. E eu viajei para outros séculos caminhando por lá! Não imaginava que a Cidade de Goiás tivesse sido a primeira capital do estado e nem que fosse dona de um conjunto arquitetônico tão bem preservado e rico. A casa de Cora Coralina foi um dos lugares que mais me emocionou! Amei conhecer um tiquinho da vida dessa poetisa. Sua história é uma verdadeira lição de amor à vida. Felizmente só tive surpresas muito boas durante essa viagem, apesar de ter ficado apenas um dia. Faltou conhecer muita coisa, principalmente os atrativos naturais que ficam no entorno da cidade, como a Serra Dourada, o Balneário Santo Antônio, a Cachoeira das Andorinhas... Ficou tudo para uma próxima visita! :)


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ACESSE TAMBÉM:
http://casosecoisasdabonfa.blogspot.com.br/2011/10/um-final-de-semana-na-historica-cidade.html

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