Provavelmente você já deve ter ouvido falar em Ouro Preto, a cidade mais famosa do Circuito das Cidades Históricas de Minas Gerais. Caso ainda não conheça, bora lá para as apresentações! Ouro Preto está localizada no meio das montanhas da Serra do Espinhaço e fica a aproximadamente cem quilômetros de distância da capital Belo Horizonte. Toda essa fama tem um porquê: essa cidade é detentora do maior tesouro arquitetônico e artístico do período colonial brasileiro. Por conta disso é tombada como patrimônio histórico e artístico pelo Iphan e também recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. Suas íngremes ladeiras e vielas são repletas de casarões, igrejas e museus que te fazem viajar no tempo e voltar para o século XVIII, época em que Ciclo do Ouro bombava na região. Foi exatamente neste período, quando ainda se chamava Vila Rica, que Ouro Preto atingiu o auge do seu desenvolvimento urbano, econômico e artístico.
Já estive por lá duas vezes, em 2013 e em 2021, sempre no estilo bate e volta e de ônibus. O acesso é bem fácil, seja a partir de Belo Horizonte (com a viação Pássaro Verde) ou Mariana, a cidade vizinha (há uma linha de ônibus urbano interligando as duas cidades). Caso você venha de São Paulo, esse percurso é feito pela viação Guanabara e a viagem dura em torno de treze horas (são mais de seiscentos quilômetros de distância). A Rodoviária de Ouro Preto fica bem pertinho do centro histórico, coisa de uns dez minutinhos caminhando.
O primeiro lugar que conheci foi a Praça Tiradentes, que é considerada o coração de Ouro Preto e está sempre movimentada. Em seu entorno há diversos casarões que abrigam pousadas, lojas, restaurantes e museus. Meu local preferido foi o Museu da Inconfidência, que funciona dentro do edifício da antiga Casa de Câmera e Cadeia (construída entre os anos de 1785 e 1855). A arquitetura deste prédio é belíssima e, na minha opinião, uma das mais bonitas da cidade! O acervo do museu é riquíssimo e composto por mais de quatro mil peças que contam um pouco da história da Inconfidência Mineira e do cotidiano social, político e artístico de Minas Gerais durante a época colonial. A entrada é gratuita! #ficaadica
| Praça Tiradentes, o coração de Ouro Preto |
| Detalhes arquitetônicos do Museu da Inconfidência |
Pertinho dali fica o Largo de Coimbra, outro local bastante visitado. Um dos motivos é a famosa Feira de Artesanato, onde mais de cinquenta expositores comercializam objetos esculpidos em pedra sabão. Eu AMEI essa feirinha! Tem muuuitas peças lindas e uma variedade incrível. Obviamente que não resisti e comprei algumas coisinhas. :) A feira é montada em frente à Igreja São Francisco de Assis, uma das mais importantes da cidade. Essa igreja foi construída em meados do século XVIII e tem estilo barroco, com alguns elementos decorativos em rococó. Por falar nisso, muitos desses detalhes foram esculpidos pelo famoso artista Aleijadinho e são considerados um de seus trabalhos mais importantes. A visita à igreja não é gratuita e não é permitido fotografar seu interior (assim como na maioria dos templos religiosos de Ouro Preto). Dali do Largo de Coimbra tem-se uma bonita vista para a Igreja Matriz de Santa Efigênia, que fica bem no alto de uma ladeira. Essa igreja começou a ser construída por volta de 1734, por uma irmandade de negros, e só foi finalizada cinquenta anos depois.
| Feirinha de pedra sabão no Largo de Coimbra |
| Igreja São Francisco de Assis, repleta de detalhes esculpidos por Aleijadinho |
| Vista para a Igreja Matriz de Santa Ifigênia |
Próximo ao Largo de Coimbra há mais alguns atrativos, como a Casa de Gonzaga (foi a residência do poeta e inconfidente Tomás Antônio Gonzaga entre os anos de 1782 e 1788; hoje abriga o Centro de Atendimento ao Turista), a Igreja Nossa Senhora da Conceição (foi construída na primeira metade do século XVIII; um detalhe bastante curioso é que os restos mortais do Aleijadinho e do pai dele estão sepultados por lá; em uma das salas funciona o Museu Aleijadinho) e, um pouco mais adiante, a Mina do Chico Rei.
Eu não sabia mas, ainda hoje, Ouro Preto tem muitas minas de ouro (desativadas, claro!). Visitei apenas essa do Chico Rei e gostei bastante da experiência! Quando cheguei, havia uma fila enooorme para entrar. Daí descobri que era uma excursão escolar e tive que esperar por uma hora para iniciar o tour. Mas a espera valeu a pena! Fiquei sabendo, por exemplo, que a história dessa mina é cheia de lendas. Conta-se que ela pertencia a um ex-escravizado, o Chico Rei, e que ele foi o único homem negro a ser proprietário de uma mina de ouro naquela época. Chico trabalhava nesta mina e foi juntando dinheiro até poder comprar sua alforria e, algum tempo depois, também adquirir a mina. Ela tem um total de oito quilômetros quadrados, mas apenas trezentos metros estão abertos à visitação. Caminhamos por alguns túneis bem estreitos e com o pé direito super baixo. Foi muito interessante conhecer um pouquinho de como a mina funcionava. Super recomendo!
| Chegando na Igreja Nossa Senhora da Conceição |
Retornei à Praça Tiradentes e segui até a belíssima Igreja Nossa Senhora do Carmo, localizada no Largo do Carmo (que fica ao lado do Museu da Inconfidência). Essa igreja entrou na lista das minhas favoritas de Ouro Preto! Ela foi projetada por Manuel Francisco Lisboa, o pai de Aleijadinho (que era arquiteto, carpinteiro e mestre-de-obras), e construída entre os anos de 1766 e 1772. Alguns detalhes decorativos da fachada (em estilo rococó) são atribuídos à Aleijadinho. Um diferencial dessa construção religiosa são os azulejos portugueses que revestem algumas paredes, formando painéis que narram passagens carmelitas. Anexo à igreja fica o Museu do Oratório, outro local que adorei conhecer! Por ali estão expostas uma imensa coleção de oratórios (com mais de cem peças, uma mais interessante que a outra) e cerca de trezentas imagens produzidas entre os séculos XVII e XX.
Ainda ali no Largo do Carmo há mais um local que super vale a visita: o Teatro Municipal Casa da Ópera. A fachada deste teatro é super modesta, mas por dentro... ele é lindo demais! E enorme (os três andares acomodam cerca de trezentas pessoas)! Fiquei encantada com a quantidade de detalhes esculpidos em madeira. A Casa da Ópera foi inaugurada em 1770 e é considerada o teatro mais antigo das Américas ainda em funcionamento.
| Igreja Nossa Senhora do Carmo |
| Museu do Oratório |
| Teatro de Ouro Preto (à esquerda) |
Caminhei mais um pouco em direção ao Museu Casa dos Contos, outro atrativo imperdível! O museu está localizado dentro de um belíssimo sobrado enooorme, repleto de janelas e com cinco pavimentos. Ele foi construído entre os anos de 1782 e 1784 (em estilo rococó) para servir de residência à João Rodrigues de Macedo, o responsável pelos impostos da Coroa Portuguesa e um dos homens mais ricos do Brasil durante a época colonial. Além de residência, o imóvel também já teve outros usos, como sediar a Casa da Moeda, a Casa de Fundição, uma agência dos Correios, a Prefeitura Municipal, entre outros. Desde 1974 ele abriga o Museu Casa dos Contos onde estão expostos mobiliários dos séculos XVIII e XIX, documentos, cartas, livros, uma coleção de moedas e cédulas, entre outros itens. Além deste acervo fixo, o local também recebe algumas exposições temporárias. A parte mais interessante da visita, na minha opinião, foi conhecer a senzala localizada na parte inferior do casarão. Foi muito impressionante estar neste local. É praticamente impossível sair de lá sem refletir sobre a escravidão no Brasil. Ah, a entrada é gratuita! Ebaaa!
Nos fundos do museu fica o Parque Natural Municipal Horto dos Contos, uma área verde com mais de trinta hectares onde é possível ter contato com a fauna e a flora da região, além de conhecer o Córrego dos Contos. Por ali há 2,5 quilômetros de trilhas, mirantes, quadras, parquinho infantil, mesas para piquenique, praças e auditórios. O parque foi criado em 1799 e é considerado o segundo jardim botânico do país. Ele também pode ser acessado pela rodoviária e pela Igreja Nossa Senhora do Pilar. Esta igreja foi inaugurada em 1733 e é considerada a segunda igreja mais rica do Brasil! Estima-se que foi usado mais de quatrocentos quilos de ouro para revestir a infinidade de elementos decorativos de seu interior. O estilo barroco impera por ali! Dentro da igreja também funciona o Museu de Arte Sacra, onde estão expostos alguns itens sacros históricos.
| Casa dos Contos |
| Detalhe de uma parede que vi no Horto dos Contos |
| Caminhada pelo centro histórico (à esquerda) e Igreja Nossa Senhora do Pilar (à direita) |
| A Igreja São Francisco de Paula pode ser contemplada por quase toda cidade |
| Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição |
Na parte baixa do centro histórico fica a Estação Ferroviária de Ouro Preto, inaugurada em 1888 (época em que a cidade era a capital de Minas Gerais). A construção desse ramal ferroviário (que fazia parte da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil) tinha como objetivo conectar Ouro Preto ao Rio de Janeiro. Isso contribuiu muito para o desenvolvimento social e econômico da região. Hoje em dia a estação funciona como um centro cultural (onde há um mini museu) e também é dali que parte o famoso trem turístico até Mariana. Fiz esse passeio e adorei! O trem percorre dezoito quilômetros da estrada de ferro e tem a duração de uma hora. As paisagens do trajeto são muito bonitas e repleta de montanhas verdinhas! Vi até uma cachoeira, acredita? Atualização: parece que este passeio está temporariamente suspenso. Torcendo para ele volte a operar em breve!
| Estação Ferroviária de Ouro Preto |
| Vi muitas paisagens lindas pelo caminho! |
Amei conhecer Ouro Preto!!! Ela é linda e repleta de cantinhos charmosos e super fotogênicos. Para onde você olhar terá um ângulo instagramável. Foi uma delícia caminhar despretensiosamente por suas ladeiras, cheias de paralelepípedos e belíssimos casarões (as janelas e portas coloridas são apaixonantes, s2). É praticamente impossível não respirar história e arte por ali. E fazer uma viagem no tempo a cada igreja ou museu visitados. Apesar de já ter ido duas vezes para lá, ainda não consegui conhecer tudo, acredita? Ficou faltando visitar alguns atrativos do centro histórico e todos os da região rural, como as cachoeiras, o Parque Estadual do Itacolomi, o Parque Natural Municipal das Andorinhas, a Floresta do Uaimii, os distritos de Lavras Novas e Cachoeira do Campo, e muitos outros lugares. Tenho muita vontade de voltar com mais calma e me hospedar na cidade, para visitar esses atrativos que ficaram faltando e revisitar os que já conheci. Bora comprar a passagem agora! :D
GOSTOU DE OURO PRETO?
Mariana fica ao lado. Aproveite para conhecer também essa outra cidade histórica.
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