BARBALHA: E seus casarões repletos de histórias!

Viagem realizada em setembro/2023


Barbalha fica no interior do Ceará, em uma região conhecida como Cariri, bem aos pés da Chapada do Araripe (um enorme acidente geográfico com mais de 178 quilômetros de extensão, que divide os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí). Partindo de Fortaleza dá um pouco mais de quinhentos quilômetros de distância, mas como estava hospedada em Juazeiro do Norte (clique aqui para o ler o post completo dessa viagem) minha locomoção foi muuuito mais rápida. As duas cidades são vizinhas e apenas onze quilômetros as separam. Caso você esteja sem veículo próprio (assim como eu), é possível fazer esse trajeto usando transporte público. Já deixo a dica de que eles funcionam super bem por lá!

Passei apenas uma tarde em Barbalha e meu objetivo principal era conhecer o centrinho histórico. Sei que a cidade possui muitos outros atrativos (que me pareceram interessantíssimos), mas como estava a pé e sozinha, só consegui conhecer a parte urbana mesmo, que era mais acessível. Meu passeio começou ali na Igreja Matriz de Santo Antônio, que é um dos principais cartões-postais de Barbalha. Ela está localizada no ponto mais alto da cidade, entre a Rua da Matriz e o Largo da Matriz (e às margens do Rio Salamanca). A capelinha que deu origem a esta imponente igreja começou a ser construída lá em 1785 e demorou cinco anos para ficar pronta (só foi inaugurada no final de 1790). No decorrer das décadas, passou por inúmeras modificações até chegar em sua atual forma. Tanto o interior, como o exterior, são muito bonitos! 

Esta igreja recebeu este nome para homenagear Santo Antônio, o padroeiro da cidade, que também tem uma importante festa por lá: a Festa de Santo Antônio de Barbalha. Este festejo ocorre anualmente, entre os meses de maio e junho, desde 1928, acredita? Ele é considerado o maior evento da cidade e é tão, mas tão importante que foi tombado pelo Iphan como patrimônio imaterial da cultura brasileira. Barbalha se transforma nesta época do ano para sediar diversos shows, apresentações folclóricas, quermesses e, claro, o tradicional cortejo do Pau da Bandeira de Santo Antônio (além de uma intensa programação religiosa). Milhares e milhares de visitantes lotam as ruas do centro histórico, que são lindamente enfeitadas com bandeirinhas coloridas, s2.

Igreja Matriz de Santo Antônio
Por dentro da Igreja Matriz

Continuei minha caminhada pelo Largo da Matriz e conheci mais alguns casarões históricos. Um deles foi o Palacete dos Alencar, erguido em 1817. Esta edificação teve uma participação super importante no desenvolvimento urbano de Barbalha, pois foi o primeiro casarão construído com base em um projeto arquitetônico. As demais casas que existiam naquela época eram beeem mais simples.

Ali pertinho, na Rua da Matriz, fica o prédio do Hotel Casarão, construído em 1859 a pedido do antigo dono do Engenho Tupinambá (um dos mais importantes engenhos de Barbalha, funcionou entre os anos de 1844 e 1980; hoje é um espaço para eventos). O casarão foi erguido utilizando mão de obra escravizada e, por conta disso, além dos cômodos comuns, também havia senzalas, pelourinho e um lendário túnel que ligava o sobrado ao canavial do engenho. Sua arquitetura foi inspirada nos casarões da Rua Imperatriz, lá da região central de Recife. O que mais me chamou a atenção na fachada foi a quantidade de janelas e a simetria entre elas, além das portas em estilo colonial (algo bem comum no conjunto arquitetônico dessa época). O sobrado funcionou como propriedade privada até 1976. Nos anos seguintes a construção passou por um processo de restauração e adaptação para, em 1981, ser reinaugurado como um hotel. Atualmente o espaço abriga a Secretaria de Cultura e Turismo de Barbalha e também sedia algumas exposições.

Palacete dos Alencar
Hotel Casarão

Próximo ao Hotel Casarão fica a Praça Figueira Sampaio, onde também há mais algumas construções super bonitas. Um prédio que me chamou bastante a atenção foi um sobrado que fica na esquina dessa praça com a Rua da Matriz. Amei os azulejinhos pintados à mão que revestem uma parte da fachada! Infelizmente não consegui encontrar nenhuma informação histórica sobre ele, pareceu até que estava abandonado. Os belíssimos azulejos, por exemplo, estavam bem degradados. Uma pena... Quase ao lado deste casarão fica o Solar Maria Olímpia (que foi construído em 1888 para servir de residência, no pavimento superior, e pontos comerciais, no pavimento inferior) e, do outro lado da praça (já na Rua do Video), o Cine Odeon (foi construído no início do século XX para servir de residência; funcionou como um cinema apenas entre os anos de 1948 e 1955).

Ainda ali na Rua do Video passei por mais um sobrado super bonito: a Casa Sampaio. Este sobrado foi construído no início do século XIX para fins comerciais. Inicialmente abrigou uma loja de tecidos no térreo e um armazém no pavimento superior. A arquitetura é muito bonita e, mais uma vez, a simetria perfeita das janelas e portas reina por lá!

Casarão revestido com azulejos pintados à mão
Solar Maria Olimpia
O antigo Cine Odeon
Casa Sampaio

Outra construção religiosa bastante importante ali no centro é a Igreja Nossa Senhora do Rosário, que tem uma história muuuito interessante. A ideia de fundar uma igreja dedicada à Nossa Senhora do Rosário veio dos escravizados, que eram devotos desta santa. Em 1860 eles iniciaram a construção, escavando os alicerces, porém algumas tempestades destruíram todo o trabalho. Esse desejo de erguer a igreja ficou paralisado até 1892, quando as obras reiniciaram com a ajuda de um padre da época. Entre muitas outras paralisações e retomadas, a igreja finalmente ficou pronta em 1921. A inauguração foi um momento tããão especial e esperado que a festa durou três dias, acredita? A arquitetura da igreja é singela, mas muuuito bonita! Na parte interna há vários detalhes talhados em madeira, principalmente no altar.

Igreja Nossa Senhora do Rosário

Segui a caminhada pelo centro histórico de Barbalha e me encantei com mais alguns casarões. Próximo à Praça da Estação, por exemplo, fica a Casa de Câmera e Cadeia (também chamada de Palácio 3 de Outubro). Este sobrado foi construído durante a grande seca de 1877 para ajudar a gerar empregos na área da construção civil. No pavimento superior ficavam as salas administrativas, e no pavimento térreo as selas da cadeia. Assim que foi inaugurado, o casarão possuía uma arquitetura típica da época colonial, mas durante uma reforma na década de 1930 foram acrescentados alguns detalhes neoclássicos. Atualmente o casarão abriga a Escola de Saberes de Barbalha. Ali na Praça da Estação também fica o prédio da antiga Estação Ferroviária de Barbalha, onde hoje funciona a rodoviária da cidade. A estação funcionou entre os anos de 1950 e 1978, ligando Barbalha à Juazeiro do Norte.

Palácio 3 de Outubro

Gostei bastante do centrinho histórico de Barbalha! Por ali há muitas construções super bem preservadas e que guardam histórias interessantíssimas. Porém vááários casarões estão, literalmente, caindo aos pedaços e precisando urgentemente de uma restauração. Torço para um dia voltar à Barbalha e reencontrar esse riquíssimo conjunto arquitetônico muito mais bem cuidado. Acredito que a melhor maneira de conhecer o centrinho seja caminhando, pois tudo é muito perto. E é uma delícia ir explorando as ruas aos poucos, descobrindo os casarões, admirando os detalhes arquitetônicos... Sem roteiro predefinido, sabe? Outra coisa que adorei conhecer foi a parte cultural de Barbalha. A Festa de Santo Antônio me pareceu ser incrível e muito animada. Olha aí um motivo pra voltar! :D


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