PARANAPIACABA: Uma vila inglesa no Brasil

Último passeio realizado em março/2018


Gosto muito de Paranapiacaba. Gosto tanto que já fui três vezes e se me chamarem pra ir de novo, eu vou correndo! Essa vila histórica de nome complicadinho fica em Santo André, a apenas 44 quilômetros de distância da capital paulista. Ela está localizada bem no topo das montanhas da Serra do Mar, com muito, mas muuuito verde ao redor (e névoa também)! Essa localização peculiar tem um motivo: a vila foi construída com o único objetivo de servir de residência aos trabalhadores que construíram a ferrovia Santos-Jundiaí, por volta de 1874. Dá pra acreditar nisso? Outro detalhe importante é que esses trabalhadores eram, em boa parte, imigrantes vindos da Inglaterra (e que trouxeram as tecnologias mais avançadas da época). Isso explica a arquitetura bem diferentona das inúmeras construções espalhadas por suas poucas ruas de paralelepípedos. É uma vila inglesa em pleno Brasil!

Minhas duas primeiras vezes em Paranapiacaba foram em 2010, quando fiz algumas trilhas pela região. Voltei oito anos depois, em 2018, para conhecer melhor a parte histórica da vila. Já fui de transporte público (trem + ônibus partindo da Estação Rio Grande da Serra) e de carro, e ambas as opções são bastante acessíveis. Ah, um detalhe importante: não é permitido o acesso de carros à vila (é obrigatório deixá-lo estacionado na entrada). Mas fique tranquilo! A vila é pequena e pode ser percorrida a pé sem muitos esforços. Outra forma de chegar é através do trem Expresso Turístico. Ele sai aos domingos da Estação da Luz, mas o bilhete precisa ser comprado com bastante antecedência pois esse passeio é bastante concorrido.

Uma das coisas que me fez gostar tanto de Paranapiacaba são os diferentes tipos de atrativos que ela oferece. Se você gosta de trilhas e de ter contato com a natureza, pode ir que lá tem. Já se você prefere destinos repletos de história e cultura, pode ir também que não vai se arrepender. Como eu gosto das duas coisas, me dei super bem e é por isso que já visitei a vila tantas vezes (e não me canso)! Também acho a infraestrutura turística da vila boa. Há algumas opções de pousadas (caso você queira passar o final de semana todo por lá), restaurantes, bares e lojinhas de artesanato. Tudo é bem simples, mas funcional!

A primeira trilha que fiz, lá em 2010, foi a Trilha do Poço Formoso. Na verdade fiz esse passeio meio que por acaso. Tinha acabado de chegar em Paranapiacaba quando fui abordada por um guia (que já estava com um grupo) que perguntou se eu queria me unir ao grupo e fazer uma trilha. Como eu estava sem nenhum planejamento para o dia, acabei topando e foi super legal! Não lembro de ter tido dificuldade, mas o percurso, de mais ou menos cinco quilômetros, era no meio da mata bem fechada. Em alguns trechos foi possível avistar a vila de Cubatão e algumas pontes da ferrovia. Tive sorte do tempo estar aberto! O final da trilha foi em uma pequena piscina natural. Como sempre não tive coragem de entrar, rs. Coloquei só os pés e a água estava super gelada!

Trilha no meio da mata
Avistamos Cubatão em alguns trechos da trilha
Olha o trem!
O Poço Formoso
Muito gelada!

Minha segunda trilha também foi no ano de 2010, mas dessa vez não tive tanta sorte e o tempo estava bastante nublado e chuvoso. Mesmo assim contratei um monitor lá da AMA, a Associação de Monitores Ambientais (que fica na parte baixa da vila, super fácil de achar) e fui fazer trilha no meio da chuva, rs! Essa associação oferece diversos tipos de passeios, com dificuldades e atrativos diferentes. Como estava com um grupo de amigas um pouco sedentárias, escolhemos a mais simples: a Trilha da Pontinha.

Essa trilha fica dentro do Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba e para fazê-la é obrigatório estar acompanhado por um guia (passamos até por uma portaria). O percurso é super tranquilo, pois é feito em uma espécie de estradinha de terra batida. Já os atrativos não são tããão impressionantes, mas o contato com a natureza deixa tudo agradável e bonito. Também estava com minhas amigas, então acabou sendo beeem divertido. Boa parte da trilha é margeando o Rio Grande (que nesse trecho é um pequeno riacho). Há algumas pontes e até piscina natural. Também passamos por uma mini cachoeira artificial, conhecida como Barragem da Caixa do Gustavo, formada pelo escoamento do represamento do rio. Acho que a trilha durou umas duas ou três horas, não me lembro ao certo.

Trilha embaixo de chuva!
Vimos muitas hortênsias pelo caminho
Cruzamos o Rio Grande diversas vezes
Barragem da Caixa do Gustavo (à esquerda) e uma das pontes do Rio Grande (à direita)

Na terceira visita que fiz à Paranapiacaba me concentrei em seus atrativos históricos e culturais. Curiosamente a vila é dividida pela linha férrea em duas partes: a alta e a baixa. Os pedestres podem transitar entre elas por meio de uma passarela de ferro (que rende belas fotos). O primeiro lugar que conheci foi a Igreja Senhor Bom Jesus de Paranapiacaba, que teve sua pedra fundamental lançada em 1884. Antigamente, era muito comum os templos religiosos serem construídos na parte mais alta das cidades. Em Paranapiacaba isso não foi diferente. A igreja matriz pode ser avistada de qualquer lugar da vila. Gostei bastante de conhecer seu interior, que é bem simples, mas muito bonito. Fiquei apaixonada pelo desenho da cerâmica do chão! s2

Outro atrativo que pode ser visto de quase todos os ângulos da vila é o Relógio da Estação (é óbvio que não poderia faltar um relógio em uma vila inglesa, não é?). Ele tem quase vinte metros de altura e foi fabricado no Reino Unido, na década de 1890. Sua construção foi inspirada no famoso relógio londrino Big Ben. Em 1981, uma tragédia quase destruiu esse atrativo turístico: um incêndio atingiu a antiga estação de trem. Felizmente, o relógio sofreu poucos danos que puderam ser reparados.

Igreja Matriz
Interior da igreja
A ferrovia
Réplica do Big Ben londrino

Ali na ferrovia fica outro atrativo bastante visitado em Paranapiacaba: o Museu Tecnológico Ferroviário, também conhecido como Museu Funicular. Esse complexo ferroviário é formado pelo pátio de manobras e por diversos prédios onde funcionavam as oficinas, os maquinários, as caldeiras e as salas administrativas. Naquela época, o sistema funicular implantado na ferrovia foi considerado o maior do mundo! Diversas máquinas e cabos de aço tracionavam as locomotivas na subida e na descida da serra. Boa parte da história desse sistema ferroviário pode ser observada nos maquinários, peças, ferramentas, vagões e locomotivas que estão expostos nas áreas internas e externas do museu. Ah, ali ao lado do museu é possível fazer um rápido passeio em uma maria-fumaça centenária.

Museu Tecnológico Ferroviário (ou Museu Funicular)
Adorei os tijolinhos das construções
Área interna do museu
Diversas peças retratam a história da ferrovia
Senti um pouco de medo nesse trecho... rs

Ainda nas imediações da linha férrea há outro atrativo inaugurado recentemente: a Estação do Expresso Turístico. Antigamente, aí nesse galpão funcionava a garagem das locomotivas. O local foi restaurado exclusivamente para se transformar na estação de embarque e desembarque dos passageiros que chegam à vila no concorrido trem Expresso Turístico (que comentamos no início do post).

Paranapiacaba possui ainda outros pontos de visitação interessantes, como o Antigo Mercado (onde acontece uma feirinha dos produtores da região), o Clube União Lyra Serrano (antigo espaço de lazer dos funcionários da ferrovia que hoje sedia alguns eventos), o Centro de Documentação em Arquitetura e Urbanismo (onde há uma exposição sobre a formação da vila), a Casa Fox (onde estão expostos memórias e objetos de alguns moradores da vila) e o Museu Castelinho.

Por falar no Castelinho, essa é mais uma construção que pode ser vista de qualquer parte da vila. Era aí onde morava o engenheiro-chefe da ferrovia e o fato da casa ficar no topo de uma colina tem um motivo: controlar o funcionamento da ferrovia (e, consequentemente, o trabalho dos operários). A casa é do ano de 1897 e é aberta a visitação. Ali dentro estão expostos diversos documentos, fotografias, mobiliários antigos, ferramentas usadas na ferrovia e outros objetos que contam um pouco a história da vila e da casa.

A antiga Garagem das Locomotivas abriga hoje a Estação Ferroviária da vila
Museu Castelinho
A casa do engenheiro-chefe da ferrovia é aberta à visitação

Esses foram os locais que conheci durante minhas três idas à vila. Parece incrível, mas ainda não visitei tudo que tem por lá. Falta fazer diversas trilhas, como a que desce até Cubatão, por exemplo. E também nunca fui ao Festival de Inverno (que acontece em julho) ou ao Festival do Cambuci (que acontece em abril). Por falar em cambuci, esse é um fruto típico da região. Na minha última visita, tive o prazer de provar um sorvete feito dessa fruta e achei delicioso. Super recomendo! O cambuci e o passeio por Paranapiacaba! :)


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