Essa cidade mineira de nome complicadinho estava na minha wishlist há muuuito tempo, mais exatamente desde 2013, acredita? Nessa época eu amava acompanhar os relatos de viagem da Katia Bonfadini, lá no blog Casos e Coisas da Bonfa, e fiquei encantada com o post que ela fez sobre Cordisburgo. Doze anos depois (quem diria!), lá fui eu conhecer essa cidade, famosa por abrigar a impressionante Gruta do Maquiné e por ter sido o local de nascimento do prestigiado autor João Guimarães Rosa. Ah, e sabem o que significa Cordisburgo? Cidade do coração. Olha que fofo! s2
A demora para visitar Cordisburgo teve um motivo: a distância. Daqui de São Paulo são aproximadamente setecentos quilômetros, percorridos em umas nove/dez horas de viagem. Como não dirijo, a coisa se agravou ainda mais! rs Tive que pegar dois ônibus: um até Sete Lagoas (da viação Gontijo) e depois outro para Cordisburgo (da viação Setelagoano). Quem é de Belo Horizonte não terá essa dificuldade, já que a partir da capital mineira são apenas 115 quilômetros de distância (e há ônibus direto, também da viação Setelagoano).
As suítes ficam em frente a um belíssimo jardim! |
Tem até uma piscininha por lá |
A suíte em que fui acomodada |
Como comentei, Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo no ano de 1908 e morou lá até seus nove anos de idade. Boa parte do turismo cordisburguense gira em torno disso, já que muitos detalhes presentes em seus contos e romances foram inspirados nessa pacata cidade do sertão mineiro. Inclusive até a casa em que ele morou com seus pais, irmãos e avó pode ser visitada! De arquitetura típica do século XIX, essa casa foi construída a pedido do pai de Guimarães Rosa, o seu Fulô, lá no início do século XX. Ela é composta por oito cômodos (que estão super bem preservados) e mais três espaços onde, naquela época, funcionava a venda de "secos e molhados" de seu pai. Desde 1974 a construção abriga o Museu Casa Guimarães Rosa e é tombada como patrimônio histórico e artístico de Minas Gerais. Ali dentro estão expostas mais de setecentas peças relacionadas à vida e à obra rosianas, como objetos pessoais, móveis, fotografias, documentos, roupas, originais e algumas edições especiais de seus livros. A visitação pode ser feita com ou sem o acompanhamento de um monitor. Gostei tanto deste museu que fiz a visita duas vezes, acredita? Uma sozinha e outra guiada (beeem mais interessante e informativa). A visita ao museu é gratuita, porém eles pedem uma colaboração espontânea de um valor simbólico para ajudar a manter o local.
Museu Casa Guimarães Rosa |
O quarto da avó (à direita) e a cozinha da casa (à esquerda) |
Nestes espaços funcionava a venda do seu Fulô |
Nos fundos da casa há um jardim belíssimo |
A casa de Guimarães Rosa foi construída estrategicamente em frente à Estação Ferroviária de Cordisburgo. Naquela época, além de transportar passageiros, os trens que paravam por ali também eram utilizados para exportar o gado criado nas fazendas da região. Os vaqueiros que traziam os bois para o embarque eram os principais clientes da venda do seu Fulô. A estação foi inaugurada em 1902 e fazia parte da Estrada de Ferro Central do Brasil, que ligava o estado do Rio de Janeiro à São Paulo e Minas Gerais. Infelizmente a estação está desativada, mas a malha ferroviária ainda é utilizada por trens de carga.
Beirando a linha férrea fica o calçadão da Avenida Padre João, um espaço super arborizado e repleto de banquinhos, perfeito para descansar e contemplar o vai e vem tranquilo da cidade. Nesta avenida também há algumas casinhas dos séculos XIX e XX repletas de portas e janelas coloridas (para a minha alegria, s2). O Restaurante Sarapalha, um dos mais tradicionais de Cordisburgo, funciona dentro de uma dessas construções antiguinhas. Além do nome fazer referência a uma das obras de Guimarães Rosa (Sarapalha é um dos contos do livro Sagarana, publicado em 1946), sua fachada é repleta de elementos bem característicos do sertão mineiro. Não almocei neste restaurante, mas amei a decoração temática!
Calçadão da Avenida Padre João (à esquerda) e tucano que avistei por lá (à direita) |
O centro de Cordisburgo é repleto de construções antiguinhas |
Restaurante Sarapalha |
A Avenida Padre João termina (ou começa) na Praça Miguilim. Por ali fica mais um atrativo turístico de Cordisburgo: o Portal Grande Sertão, que marca o início do sertão mineiro. O portal é composto por oito figuras esculpidas em bronze que representam uma travessia que o autor fez em 1952 pelo sertão mineiro, junto com um grupo de tropeiros. As experiências que ele viveu nessa viagem (que durou dez dias) o inspirou a escrever um de seus maiores romances, o Grande Sertão Veredas. O portal foi inaugurado em 2010 e criado pelo artista plástico Leo Santana (que também produziu a estátua de Carlos Drummond de Andrade que fica lá na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro). Um detalhe bastante curioso que chamou minha atenção foi a presença da escultura de um cachorrinho, interagindo com um dos cavalos. Essa é uma característica bem marcante das obras de Guimarães Rosa: ele sempre dava um jeitinho de incluir um cachorro em suas histórias. Muito fofo! s2
Pertinho do portal fica a lindíssima Capela de São José, construída em 1883 a pedido do Padre João de Santo Antônio, considerado o fundador da cidade. Essa capelinha foi uma das primeiras construções dali da região e marca o início do povoamento de Cordisburgo.
Portal Grande Sertão |
Detalhes das esculturas |
Outra construção religiosa bastante importante em Cordisburgo é a Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, localizada em uma das áreas mais altas da cidade. Essa igreja também foi erguida a pedido do fundador da cidade e demorou dez anos para ficar pronta, acredita? Sua construção começou em 1884 e só terminou em 1894. Porém, com os passar dos anos, ela foi se deteriorando e acabou sendo demolida (lá em meados do século XX). No mesmo local foi construída uma outra igreja muito mais imponente (e de estilo arquitetônico eclético), que permanece por lá até hoje. Achei essa igreja muito bonita, tanto por fora, como por dentro. A praça onde a igreja está localizada, a Praça Sagrado Coração de Jesus, também é bem agradável e super arborizada.
Praça Sagrado Coração de Jesus |
Além dos atrativos culturais e históricos relacionados a Guimarães Rosa, Cordisburgo também tem inúmeras belezas naturais, entre elas a Gruta do Maquiné (que faz parte do Circuito das Grutas de Minas Gerais, junto com a Gruta da Lapinha, em Lagoa Santa, e a Gruta do Rei do Mato, em Sete Lagoas). Ela fica a uns cinco quilômetros dali do centrinho (na zona rural) e foi descoberta em 1825 pelo fazendeiro Joaquim Maria Maquiné. Quase uma década depois dessa descoberta, em 1934, o naturalista dinamarquês Peter Lund começou a estudá-la minuciosamente e encontrou mais de doze mil fósseis ali dentro! Estes estudos ajudaram a comprovar que Cordisburgo foi habitada por animais e civilizações pré-históricas há milhões de anos. Para homenagear essa grande descoberta, o artista cordisburguense Stamar de Azevedo Júnior (mais conhecido como Tazico) criou o Zoológico de Pedras. Esse "zoológico" fica na Praça Otacílio Negrão de Lima, ali no centro, e é composto por algumas esculturas de animais gigantes (que viveram no período geológico Pleistoceno, também conhecido como Era Glacial). Tem preguiça gigante, tatu gigante, tigre dente-de-sabre, toxodonte, mastodonte...
Ainda ali no centro de Cordisburgo há mais duas criações desse artista: a Casa Elefante e a Casa Baleia. Sim, é isso mesmo que você imaginou! Ele também construiu duas casas com o formato de animais. A Casa Elefante está localizada pertinho do pórtico de entrada da cidade e demorou treze anos para ficar pronta! Ela mede oito metros de altura e tem até um terraço com vista panorâmica no topo. Já a Casa Baleia foi construída mais recentemente e fica na mesma praça do zoológico. Ambas podem ser alugadas. Ah, em frente a Casa Elefante fica o Centro de Artesanato, mas infelizmente ele estava fechado quando estive por lá. Deve ser um local bem interessante para conhecer e comprar os artesanatos produzidos na região.
O Zoológico de Pedras é repleto de esculturas de animais da megafauna |
A Casa Baleia |
Como comentei, a Gruta do Maquiné fica a uns cinco quilômetros do centro e não há transporte público até lá. Por conta disso acabei contratando uma motorista indicada pela pousada para me levar e me trazer de volta. A visitação na gruta é feita com hora marcada e em grupos, e tem a duração de uma hora. O ingresso pode ser adquirido antecipadamente pelo site oficial deles (clique aqui para acessar) ou direto na bilheteria. O local tem uma ótima estrutura, com restaurante, lojinhas, playground, estacionamento, sanitários e bebedouros. Cheguei no primeiro horário (às 9h) e meu grupo foi super pequeno: só haviam cinco pessoas + a guia.
Quando você vê a gruta do lado de fora não imagina a grandiosidade que é lá dentro. Fiquei impressionada assim que entrei e me surpreendi ainda mais a cada passo que dava. As formações calcárias presentes nas paredes, chão e teto são belíssimas, e dão a sensação que estamos em outro planeta. São centenas de estalactites, estalagmites, colunas e cortinas, nos mais diferentes formatos. É impressionante saber que todas essas formações demoraram milhões de anos para serem criadas. A gruta tem 650 metros, mas apenas 440 é aberto à visitação (por conta da segurança). Passamos por sete grandiosos salões: Salão do Vestíbulo, Salão das Colunas, Salão do Trono, Salão do Carneiro, Salão dos Lagos (os lagos só se formam na época de chuva), Salão das Fadas e finalizamos no Salão do Peter Lund. Tudo é muito lindo e a iluminação estratégica deixa o ambiente ainda mais cinematográfico. Ah, quase esqueci de contar que dentro da gruta também há algumas inscrições rupestres. Suuuper recomendo a visita!
Entrada da Gruta do Maquiné |
Inscrição rupestre (à esquerda) e por dentro da gruta (à direita) |
![]() |
A gruta é ricamente ornamentada por estalactites e estalagmites |
![]() |
Parece que estamos em outro planeta! rs |
Como puderem perceber, amei conhecer Cordisburgo! Apesar de pequena e pacata (e isso certamente é o seu charme), a cidade tem excelentes atrativos turísticos, sendo perfeita para uma viagem de final de semana ou até um bate e volta (caso você esteja em Beagá). Todas as pessoas que tive contato durante os passeios, nos comércios e até nas ruas foram muito gentis comigo e sempre estavam com um sorriso no rosto. Me senti muito segura e acolhida! Amei conhecer o Museu Casa de Guimarães Rosa, a Capela de São José, o Portal Grande Sertão e a Gruta do Maquiné (este foi o rolê mais surpreendente). Também curti bastante caminhar despretensiosamente pelas ruas ali do centro e ir admirando as casinhas antigas que ainda estão por lá, resistindo ao tempo. A única coisa que não gostei em Cordisburgo foi a quantidade de cachorros vivendo nas ruas. Eles andam em bando e latem muito, assustando um pouco quem tem medo de cachorro solto (assim como eu). A prefeitura da cidade (ou outro órgão responsável) poderia ter um projeto de castração e de abrigo para esses animais (que merecem viver com mais dignidade e conforto). Tirando isso a viagem foi perfeita e amei passar um final de semana em Cordisburgo!
GOSTOU DE CORDISBURGO?
Aproveite a viagem e conheça Sete Lagoas. Fica pertinho!
ACESSE TAMBÉM:
casosecoisasdabonfa.blogspot.com/2013/02/os-encantos-e-misterios-das-grutas-de.html
MINHA AVALIAÇÃO:

Todos os textos e fotos contidos nesse blog são minha autoria e não podem ser reproduzidos sem autorização.